A GRAÇA DAS MULHERES
Jaime
Estive a admirá-las por toda a minha vida. A graça das mulheres é de graça. Com o tempo contado ela chega. A menina desengonçada, de pernas finas e barriga saliente, ganha curvas invejáveis. Fico a imaginar como é ser um tamborzinho e acordar no dia seguinte sendo um violão, tocado por mãos leves. Meu Deus... Que corpo elas têm.
Que graça é vê-las de longe e admirar a silhueta desenhada pela sombra provocada no pôr-do-sol. De perfil, então, não há o que dizer. Os seios entram em harmonia com o quadril. Se um é grande demais o outro compensa, assim, há opções para todos os gostos. Mas sim.Todas elas são belas.
Uma pena que sejam cegas. Tão cegas que não saibam que têm de graça tanta graça. Estão sempre a querer mudar. Se são loiras, pintam as madeixas de negro. Se são morenas, se tornam loiras. Apenas as ruivas naturais dificilmente tingem os cabelos. Imagino que seja porque sabem que as sardas combinam perfeitamente com os fios em chamas. Mas muitas outras procuram na química o tom fogo exclusivo da natureza.
Pois assim elas continuam a viver. Em dieta constante, renunciando o sabor doce de um chocolate para não fazer feio diante do biquini.
Quem foi que as disse que não gostamos das dobrinhas na barriga ou dos furinhos no bumbum? Tudo isso as tornam mais femininas.
Mulheres perfeitas? São pura ilusão. Nós nunca seriamos felizes com mulheres sem furinhos. Deve dar medo de tocar. E posso jurar que os que as têm, sabem exatamente onde encontrar um furinho só para admirar tamanha feminilidade.
Dia desses, enquanto me matava na esteira da academia para manter a barriguinha tamanho médio, notei que ria sozinho. Ao meu lado, dos dois, inclusive, mulheres corriam há uma hora. Certamente tinham exagerado no final de semana. Mas eu ria e sabia o porquê. Elas não precisavam de tanto esforço para serem notadas pelos homens. Nós as admiraríamos nem que fosse apenas pelo cheiro natural do corpo. Nós só por sabermos que existem.
Dizem que essa vaidade toda é pura competição interna, entre mulheres. Deve ser por isso que não as compreendemos.
Mas elas deveriam agradecer por terem tanta graça. Deveriam, induscutivelmente, abrir os olhos e agradecer.
Quando olho para minha irmã, recordo-me do meu próprio reflexo no espelho. Sua pele desprovida de pêlos ainda é lisa e macia como a de uma jovem e seu corpo anuncia que nunca perderá as curvas, mesmo que os anos insistam em passar. Quando olho para mim, a única mudança são as canelas afinando e a barriga crescendo. Estou adquirindo a forma "barril andante", a sina de todos os homens com mais de um metro e oitenta e menos de um e noventa.
Hoje estive na minha teraupeuta. Comentei que precisava perder alguns quilinhos. O que ela me falou? " Você não sabe a graça que tem".
Alguns homens devem nascer também com a graça das mulheres. Eu devo ser um deles. Delas. Sabe-se lá o que.