domingo, agosto 06, 2006

Não é o que não pode ser - parte 2


Patrícia

No episódio anterior...

Deu sinal. Desceu. Três quadras e estaria no início do fim de seu desespero, era o que todos esperavam, ou melhor, ela. Porta de vidro, ar condicionado, assentos individuais com estofado verde combinando com as paredes.

Parte 2

“Quanto é?” “São 50 reais”. “Puta queu pariu, 50 paus jogados no lixo”. Foi lá dentro, voltou num minuto. “O resultado sai amanhã de tarde”. “Amanhã?” “Isso”. “Tudo bem, obrigada, até logo!” “Até”. Agora é desencanar. "Nossa tenho uma resenha pra fazer. Dane-se a resenha, quem manda ser burra, quem sabe assim eu aprendo". "E os tios, imagina eu com barriga aparecendo e todos me condenando! Mas eles que se danem também, nunca ajudavam em nada". O estômago incomodava. Andava apressada, passos furiosos. Saco cheio já. PROMOÇÃO: fraldas a partir de RS: 3, 50. Nunca vira tantas crianças nos colos, tantas moças grávidas. O celular. “Alô? Estou indo pra casa. Tá, ok eu ligo quando chegar, Claudinha”. Queima de Estoques!! Festival de preços baixos! Enxovais de bebê a preços de custo! Ansiosa, a cabeça começava a doer, o incerto incomodava. No ponto de ônibus uma mulher grávida puxou conversa. Tudo parecia conspirar a favor. O ônibus se aproximava, foi despedir-se da recém conhecida, mas a mulher disse que também pegaria aquele coletivo. Sentaram juntas. Não tinha coragem de perguntar se era um menino ou uma menina. Nem precisou: “estou esperando uma menina, não é lindo? Vai se chamar Carol!”
“Huummm, legal...”
“Você não pensa em ter filhos?”
“Não!” “Quero distância disso!”
“Credo! Que isso??” – pasmou a moça com a reação de Patrícia, acariciando a barriga que já “dava as caras” sob a camiseta branca.
“Éééé... no momento...”
“Claro, não estou dizendo agora, mas daqui há uns anos talvez...”
“Olha, não quero ser grossa, mas acabei de fazer um teste para saber se estou grávida ou não, estou em parafusos, sou muito nova, nem está nos meus planos ter um filho agora.”
“Ah sim, entendi o que se passa...”
A moça ameaçou levantar, Patrícia deu licença se despediu:
“Bem, prazer em conhecê-la, desculpe o jeito.”
“Magina, não tem problema, prazer, até mais”.

O coletivo estacionara no semáforo. “Mais três pontos e estarei enfim no meu quarto”. Olhava a paisagem pelos vidros. Lembrou de quando passeava de mãos dadas com sua mãe. Sentia saudades.

Chegou em casa, tirou os sapatos, os dedos do pé doíam. Ligou o rádio e lembrou-se de telefonar para Claudinha. Sentou na beirada da cama com o telefone sem fio numa das mãos, apoiando a outra nos joelhos:

“Alô, Claudinha?”
“Oi querida, como estás?”
“Bem, bem.”
“E aí?”
“Vc não sabe quem está grávida!” – disse Claudinha sem titubear.
“Ai meu Deus...”
“A Fabiana, a “puritana” lá da facul, sabe?”
“Putz, só posso estar grávida, não acredito, não acredito” – imaginava muda ao telefone.
“Patrícia?”
“Oi, oi.”
“Algum problema?”
“Apenas banalidades, temos que conversar, tenho algumas coisas pra te falar, mas agora preciso tomar banho e comer algo, meu estômago lateja.”
“Ok então, depois conto os detalhes!”
“Beijos.”
“Beijo, até.”

“Que saco, odeio quando não posso fazer nada para mudar a situação.” “Detesto esse tipo de coisa” - parada encarando-se de frente com o espelho da porta do armário. “O melhor é não pensar, preciso arranjar algo pra fazer, só amanhã mesmo saberei se me fodi ou não” – conversava consigo mesmo despindo-se no banheiro para o banho, estava atrasada para a faculdade.

No caminho o pai avisara-a que não poderia ir buscá-la, pois ele e sua mãe sairiam para jantar com o pessoal da empresa.

“Mas fica tranqüila, darei um jeito, caso seu irmão não possa ir, arranjarei alguém ou eu mesmo venho.” – avisou Frescrech pai.
“Beleza pai, qualquer coisa liga, saio as dez e meia, por aí...”
Deu um beijo de despedida no rosto da garota: “tudo bem filha, até.”
“Até, tchau, bom jantar!”
“Tchau, boa aula!”


A aula já havia começado. Pediu licença para o professor e entrou na sala. Vários dos garotos secaram-na enquanto escolhia uma carteira vaga. Era linda. Só não sabia que por causa daquele jantar de seus pais, a noite que apenas começava, terminaria de forma “diferente”.
Na saída o acaso dera um jeito de fazê-la esquecer por algum tempo as “paranóias” da possível gravidez...


Continua...

4 Comentários:

Às 10:41 PM , Anonymous Anônimo disse...

legal em

 
Às 6:15 AM , Anonymous Anônimo disse...

Será que toda garota já passou por momentos assim?.... sim, o mundo parece conspirar contra. Tudo relaciona-se com gravidez! coincidentemente... o porque, eu nao sei! deve ser pra ficarmos mais espertas da proxima vez, tipo um "äviso prévio".
Paty, tomara q nao estejas gravida... mas se estiver, é melhor começar a pensar com carinho... dizem q o feto sente qnd é rejeitado..

 
Às 7:19 AM , Anonymous Anônimo disse...

Nossa! É, as coisas são assim mesmo, em várias situações, parece que tudo está conspirando contra você. Muito bom o texto, dá pra sentir a preocupação da Paty!

 
Às 1:41 AM , Anonymous Anônimo disse...

Quem vos fala acima é a voz da experiência.

 

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