quinta-feira, junho 08, 2006

“Decidi” esta semana não transmitir a nenhuma criatura o legado da minha miséria


Lenita


No trajeto cotidiano...
...em meio aos horríveis casebres em profundo contraste com as habitações higiênicas e modernas, que passam disformes...em um todo compacto, homogêneo...rapidamente ante ao vidro da janela...
...me pego pensando numa dessas amantes boçais...que como a Fedra da fábula caíra sob o látego da carne...
Como em um frenesi, me embriago com esse pensamento, atingindo um estado demente...Solto, de repente, um sorriso cruel gelado, torço as mãos e bato meus pés em um ritmo nervoso. Queria, como os imperadores romanos diante das lutas dos gladiadores, ter direito de vida e de morte; queria poder fazer prolongar o seu suplício até à sua exaustão; queria dar o sinal, pollice verso, para que o executor consumasse a obra.
Queria a morte da fêmea estúpida...que é capaz de matar os genitores por um desarranjo orgânico, por um desequilíbrio de funções, por uma nevrose...que alguns chamam de amor...outros de ganância...
Enfim...como seu próprio nome a define...é claro desconsiderando a pequena variação – Suzane, vem de Susie, quem em hebraico significa pura como um lírio – aliou a habilidade com a destreza de um gatuno, que atento a todos os detalhes...abre a sua vivenda, para o algoz findar com aqueles que lhe deram a dádiva da vida.
Dissimulada, fria...arquitetou todos os passos a serem cumpridos...tudo em busca, tudo pela realização da união carnal...que nunca está contente por si só...
...se assim o fosse, não teríamos aqueles seres nojentos, distantes da mínima beleza...que empapuçam todos os dias os seus aventais e reclamam...ah! como reclamam de não serem felizes no casamento, enfim...o que lhes falta todos sabemos bem o que é...
...e esperta Suzane também o sabia...além do desejo da carne...ansiava pelos prazeres mundanos em sua totalidade...a grosso modo...queria dinheiro para viabilizar uma atração viciosa...
Dinheiro e Sexo...máximas da vida??? Ora não fique indignado...pense como animal que o é...todos temos os nossos genes egoístas que querem perpetuar a nossa espécie, da melhor maneira possível...
***
Então, volto ao meu anseio inicial, a morte fria de Suzane...e repenso horas a fio...concluindo que todos somos um pouco dela...ansiamos pelo desregramento de sentidos...pela quebra da moral...mas tememos sermos considerados brutos...
Reconheço que até mesmo eu, uma mulher superior, apesar da minha poderosa mentalidade, com toda a minha ciência, não passava, na espécie, de uma simples fêmea, e que o que sentia era o desejo, era a necessidade orgânica do macho. Suzane apenas atendeu a essa necessidade, foi até o fim...
Talvez fosse o caso de repensarmos...e optarmos não pela morte de Suzane...mas talvez na mórbida idéia de suicídio...como uma tentativa de eliminarmos as anomalias que somos no Universo...
"Tema o homem a mulher, quando a mulher odeia: porque, no fundo, o homem é simplesmente mau; mas a mulher é perversa."
Friedrich Wilhelm Nietzsche

2 Comentários:

Às 1:04 PM , Anonymous Anônimo disse...

Cada dia que passa a certeza de que sou um homem medíocre aumenta.
Mas eu gosto de mulheres mais inteligentes do que eu. Me excitam. Seria Lenita a paixão concomitante a Patrícia Frescrech? Vamos ver onde isso vai dar!

 
Às 1:44 PM , Anonymous Anônimo disse...

Sou mais criança que mulher. É a certeza que tenho ao ler seu texto Lenita. Dinheiro e sexo como máximas da vida. Não. Para minha vida não consigo aplicar tais premissas. Mas dentro do meu mundo ainda minúsculo, sinto intensamente tais instintos cegando muita gente. Gostei do seu texto, um dia quero escrever como você.

 

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