domingo, junho 04, 2006

Mais um dia normal

Maria Luísa

Cinco e meia da manhã. Celular insuportável!
- Maria Luísa!!! Se quiser carona comigo, levanta logo!!!
Não, não é possível. Ainda está escuro. Não... Não mãe. Não puxa minha coberta... Eu acho que vou pegar uma gripe. Dor no corpo, que frio! Só pode ser febre! Melhor eu ficar em casa hoje. Boa noite mãe!
- Maria Luísa, deixa de frescura e levanta. A primeira aula de hoje não é física? Você me disse ontem que estava cheia de dúvidas. Vai! Levanta!
Legal mãe, me ajudou muito. Segunda-feira fria, cinco e meia da madrugada, primeira aula? Física! Você me venceu com sua crueldade. Agora me dá um beijo de bom dia.
- Exageraaaada!- e ela me dá um tapa na bunda. Viram como minha mãe é má?
Pelo menos de manhã, o banheiro não deveria ter espelho. Olha só pra isso! Minhas olheiras vão até as bochechas! Brrrriii... água gelada. Vai! Joga essa água na sua cara feia!
Calça jeans super básica, moletom branco preferido e casaco preto. Minha mãe entra no quarto feito um furacão.
- Deixa eu abrir essa janela! De novo esse moletom Maria Luísa?
Como ela consegue ser tão disposta?!?!
- O que você vai comer? Não vai sair sem comer de novo hein? Está tudo em cima da mesa. Leite, café, chocolate, pão, torrada, bolacha, margarina, requeijão, geléia. Seu pai foi na padaria aí debaixo e comprou alguns frios também. Se quiser alguma fruta, tem na geladeira. É só lavar.
Tem melancia também? Se não tiver melancia eu não levanto daqui...
- Engraçadinha. Vê se leva algo pra comer. Não vai comprar coxinha na cantina!
Ok mãe.
Que mesa farta! Vai sobrar um monte de coisa. E tanta gente passando fome por aí. Mãe, na hora que eu engulo o leite, minha garganta dói. Tá! Já entendi seu olhar.
- Você já penteou o cabelo?
Meu pai: - Quem, eu?
- Não, a Maria Luísa.
Faço cara feia, ela vive implicando com o meu cabelo, mas eu a amo mesmo assim. Meu pai pega a chave do carro e fica me esperando na porta. Ele é o cara mais calmo do mundo, distraidíssimo! Pego minha mochila verde musgo, beijo minha mãe, grito TCHAU!!!! para minha irmã que ainda está dormindo e tento mais uma vez não ir pra aula: Mãezinha, acho que dei um mal jeito nas costas quando fui pegar a mochila. Ela se levanta e vai para o quarto se trocar.
- Boa aula Maria Luísa!
No caminho eu ligo o rádio. Cidade agitada e não são nem sete horas. Meu pai fala pouco, de vez em quando indagavava:
- É nessa rua que eu entro? Eu sempre esqueço.
Normalmente, eu vou de ônibus para o cursinho, outras vezes vou a pé até a estação de metrô. No entanto, minha mãe prefere que eu vá com o meu pai. Já dirijo e não tenho carro. É, eu sei que minha dependência financeira é vergonhosa. Mas o preço do cursinho também é vergonhoso. Uma facada! Como não sei fazer nada, se eu fosse trabalhar, ganharia pouquíssimo, todo o meu salário iria para o cursinho. E não sobraria tempo para estudar. Pelo menos foi esse o argumento usado pelo pessoal de casa para me convencer a não trabalhar. Eles acreditam no meu potencial. Fico imaginando os sonhos que meus pais têm de noite:
“Um belo consultório. Novinho em folha! Belos quadros nas paredes pintadas de salmão. Algumas criancinhas fofas com suas mães, sentadinhas esperando para serem atendidas. De repente, no fundo do corredor, a porta se abre. Uma luz que ilumina todo o ambiente. De lá, sai uma bela mulher, com um belo tailleur branco. Cabelos impecáveis, estetoscópio rosa pendurado no pescoço. Então, a secretária bonitinha abre um sorrisão e diz exultante: Ali está a DOUTORA Maria Luísa!”

Chego à escola. Brigada pai! Atravesso na faixa correndo. Se não correr morro atropelada! Toda vez que atravesso ali me sinto um pino de boliche. É sério, um dia eu vi a cara diabólica de um motorista dentro de um Fox Cross vindo na minha direção. Que raiva dele! Apontei o maior de todos, acredito que ele não viu. Da próxima vez, solto logo um “Filho da puta!!!” ou um “seu merda!!!”. Não me olhem assim, eu sou um doce quando não tentam me atropelar.
Em frente à porta principal, dou mais uma olhadinha na rua, suspiro para ganhar força e entro para a aula de física. Lembro-me então da frase do meu filósofo preferido, o Garfield: Odeio segunda-feira!

3 Comentários:

Às 2:31 PM , Anonymous Anônimo disse...

Me identifiquei muito com a Malu. Não vjo a hora de ler outra crônica. Aliás, todas são boas! Quem postou? Um visitante aleatório...

 
Às 11:57 AM , Anonymous Anônimo disse...

Colha a flor quando florescer; não espere até não haver mais flores, só galhos a serem quebrados...
Robert Herrick
...Um brinde: A beleza da inocência, o colorido da juventude....

 
Às 10:22 PM , Blogger GABRIEL RUIZ disse...

O ritmo e o clima me lembram Sampa. Não sei. Mas qridissima Malu, quando sentir muita preguiça de levantar pense nos meninos gatinhos do colégio, cursinho então! Assim vc abstrai um pouco dos livros, talvez.

E segunda feira realmente dá-me uma preguiça, quando ouço no domingo aquela musiquinha do fantástico acabando, é muito chato.

Bejos Malu.

Patrícia.

 

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